domingo, 9 de agosto de 2009

Imprensa e Sistema Socioeducativo: incompatibilidades de preceitos.

Olá senhoras e senhores,

Estive fora um tempo, já até havia esquecido a senha do blog (heheheh), mas esse tempo que me dei foi providencial. Enfim, o fato é que voltei de minha férias forçadas e chego com um blog cheio de novidades - pelo jeito minha amiga Sabrina é uma fortaleza inabalável - e com notícias de uma "rebelião" numa unidade do sistema socioeducativo de Sergipe.

Bem, vocês já perceberam que quando numa avenida ou numa rua qualquer carro bate no outro ou alguém é atropelado, praticamente todos, mas praticamente todos mesmo, que passam pelo local querem olhar a tragédia, não com o ar de preocupados ou tanto altruístas, mas simplesmente pelo prazer inenarrável da alma humana de saciar a curiosidade. Daí aparecem aqueles que passam bem devagar com o carro para olhar mais de perto o acontecido piorando a já péssima fila de carros que foram formadas pelo engarrafamento; as pessoas dentro dos ônibus se levantam, comentam e fazem gestos entre elas; e há também aqueles que num lampejo tecnológico, ainda tiram fotos para quardarem de recordação.

Não cabe aqui eu avaliar esse fato do cotidiano numa perspectiva moral, deixo isso pra vcs, mas cabe aqui uma analogia: A imprensa, seja ela qual for, elabora essa prática da curiosidade da tragédia com o Sistema Socioeducativo. A mesma coisa. Ela só olha, faz gestos ou até mesmo denuncia apenas quando alguma coisa fora do normal acontece. E no Sistema Socioeducativo essa "coisa fora do normal" para a imprensa sempre se resume em três palavras: violência e adolescentes.

Esse comportamento midiático fica mais acentuado quando se trata de Internação de Adolescentes em Conflito com a Lei. Faço o desafio para vocês: entrem no site das principais emissoras de televisão e dos principais jornais dos Estados de vocês e comprovem o que esse humilde blog está escrevendo. Eu fiz isso aqui em Brasília, fui no sítio do Correio Brasiliense, principal jornal de Brasília, e digitei "Adolescentes Internação", depois "Adolescentes em Conflito com a Lei", depois "Menor Infrator". Resultado? Foram o total de 286 notícias, desde quando começaram com o jornal na internete. Dessas 286 notícias 201 possuim um caráter de denuncia ou informações sobre rebeliões, mortes de adolescentes e atos infracionais cometidos por eles. As outras eram todas para dar espaço para VIJ ou outros órgãos responsáveis pelo atendimento da Criança e Adolescente no DF, sem grandes aprofundamentos das questões (como de praxe).

Não, não! Não pensem mal de mim, jornalistas de plantão. Defendo amplamente o direito constitucional de expressar o que pensamos. Entretanto, faço a vocês as seguintes perguntas: porque encanta tanto o desastre das Medidas Socioeducativas? Porque é interessante falar de rebelião e não dar espaço para aqueles que trabalham dedicadamente e de forma correta com essas mesmas Medidas? Vocês já pensaram quais são as idéias formadas pelas pessoas que pouco entendem sobre o atendimento a adolescentes em conflito com a lei fazem ouvindo e lendo essas notícias? Será que simplesmente o caráter denunciativo das notícias criará novas demandas sobre esse assunto para os profissionais e a sociedade em geral?

É, no mais, espero que nossos colegas profissionais da unidade de Sergipe tenham gana e força para recomeçar depois de tanta peleia e que principalmente esses mesmos profissionais saibam lutar pelos seus direitos trabalhistas sem parar de pensar nas necessidades da população por eles atendida.

Walter Gomes

Um comentário:

  1. Erika Pessanha d'Oliveira17 de novembro de 2009 às 13:55

    Excelente postagem, a imprensa realmente só colabora para acentuar os preconceitos. Realizei uma pesquisa entre mais de 160 futuros educadores aqui no interior do PR e mais da metade não fazem idéia do que seja medida sócio-educativa. Adorei o blog, supervisiono estágio de Psicologia na área, quero manter contato com vcs! forte abraço e força na luta, Érika Pessanha

    ResponderExcluir